Sangrada a terra por viagens sem regresso que levaram pais e filhos nos bojudos porões dos veleiros, restou da sangria a dissimulada lembrança e o silêncio e a vontade de Deus que tudo pode, até chegar e instalar-se o Tenente, o branco, que parecia não vir buscar nada e pelejou ao lado dos homens contra a pilhagem de Amadu Paté Coiada, régulo do Gabu, e contra o veneno de serpentes, os insetos, as febres, os tornados, a sede e a traição das onças e dos enviados do chão francês. Durante a guerra, montou quartel à beira do Rio Grande, junto do Cais dos Escravos; pelo Tcherno Kali possuíam os dois mais fogosos cavalos da região e repartiam entre si as mais belas virgens, em haréns de pacotilha, sem ofensa de Cristo e de Alá...
"Memória", Álvaro Guerra
(Álvaro Guerra nasceu no dia 19 de Outubro de 1936. Morreu em 2002.)
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