segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Mário de Alencar

Depois de ler a Ode I de Horácio

Nem tudo, sábio Horácio, o que aspiravas
E a Mecenas pedias, é o que aspiro.
A mim basta-me um plácido retiro,
Entre árvores, ao pé da água corrente,
Ouvindo a voz das musas que invocavas.
Com isso apenas viverei contente.

Longe da turba inquieta que aborreço,
Nem teria ambições, nem cuidaria
De haver glórias da terra. Na poesia
É o grande prêmio dela o vago sonho,
Com que eu, vivendo embora, a vida esqueço
E num mundo melhor viver suponho.

Tão alto não irei no imenso espaço
Que toque os astros como tu, amigo.
Mas sei que astros e céus tenho comigo
Enquanto com estes sonhos bons me iludo;
E como as aves cantam, versos faço.
Isso - que vale o mais? - vale-me tudo.

"Versos", Mário de Alencar

(Mário de Alencar nasceu no dia 30 de Janeiro de 1872. Morreu em 1925.)

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