Romance do terceiro oficial de finanças
Ah! as coisas incríveis que eu te contava
assim misturadas com luas e estrelas
e a voz vagarosa como o andar da noite!
As coisas incríveis que eu te contava
e me deixavam hirto de surpresa
na solidão da vila quieta!…
Que eu vinha alta noite
como quem vem de longe
e sabe o segredo dos grandes silêncios
- os meus braços no jeito de pedir
e os meus olhos pedindo
o corpo que tu mal debruçavas da varanda!…
(As coisas incríveis eu só as contava
depois de as ouvir do teu corpo, da noite
e da estrela, por cima dos teus cabelos.
Aquela estrela que parecia de propósito pra enfeitar os teus cabelos
quando eu ia namorar-te...)
Mas tudo isso, que era tudo para nós,
não era nada da vida!…
Da vida é isto que a vida faz.
Ah! sim, isto que a vida faz!…
- Isto de tu seres a esposa séria e triste
de um terceiro oficial de finanças da Câmara Municipal!…
"Poemas Dispersos", Manuel da Fonseca
(Manuel da Fonseca nasceu no dia 15 de Outubro de 1911. Morreu em 1993.)
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