segunda-feira, 21 de outubro de 2013

As eleições autárquicas tais quais elas são

A propósito da balda que são as eleições em Portugal, muito particularmente as eleições autárquicas, escrevi e publiquei este texto no dia 17 de Janeiro de 2013, então com o título No fim dá tudo certo:

Eu, o Presidente da República e o presidente da Anafre estamos muito preocupados com o chamado processo de reorganização do território. Eu, por razões egoístas; Cavaco Silva e Armando Vieira, porque faz parte. As minhas razões são tão egoístas que ficam cá comigo. Vamos, portanto, às alegadas razões dos outros dois:
Primeiro Cavaco, o do "promulgo, mas" - que é só para o que lhe dá ultimamente. A esfinge de Belém parece que diz que teme que o novo mapa das freguesias, assim de repente, possa estragar a "autenticidade" dos resultados das eleições de Outubro e pede ao Parlamento que tome todas as medidas (duas antes de cada refeição, até ao fim da caixa) para assegurar que as autárquicas decorrem com "transparência" e "normalidade".

E depois Vieira, sem mais nada a que se agarrar, aproveita a boleia e acrescenta que a lei agora promulgada pode pôr em causa tarefas como o recenseamento eleitoral ou a disponibilização de espaços e urnas no dia das eleições.
De que país falam Cavaco Silva e António Vieira? E de que eleições? É de Portugal? É das autárquicas? Das eleições nas freguesias? É?
Então podem ficar descansados. Cavaco não sabe, porque não faz a mínima ideia do que se passa no País, mas Vieira devia saber e se calhar sabe: as eleições autárquicas correm sempre bem, quer chova quer faça sol. O mapa não interessa para nada, a logística é um pormenor, as chapeladas são as do costume. Bebem-se uns copos à boca das urnas e nas urnas propriamente ditas, faz-se uma almoçarada com o pessoal de serviço de todos os partidos, que são o PPD e o "da mãozinha" mais o gajo do PC que vem de fora e é um picuinhas. O pai vota pelo filho que é tolinho, o filho vota pelo pai que já morreu, pai e filho votam pela avó que está muito atacadinha e não pôde vir, e depois a avó vem e vota também. Há quem vote em dois lados, há quem vote duas ou três vezes no mesmo lado, há quem vote nos dois partidos, e vale, há quem vote em quantas freguesias for preciso, é só dizer, há quem queira e possa votar e não deixam, há quem se faça de ambulância, há quem se faça de parvo, há quem chame a polícia, há quem chame pelo gregório agarrado ao garrafão levado pelo presidente da mesa a mando do presidente da junta. Chegada a hora das contas, vai-se aos cadernos e à acta, acrescenta-se aqui, desarrisca-se ali, rasgam-se uns papéis, queimam-se, noves fora nada, o chato do PC também assina, e no fim bate tudo certo. Podem crer: bate tudo certo. E isto, meus senhores, é que é democracia. Autêntica, transparente, normal.

O detalhe das trapalhadas pode parecer uma caricatura, mas não é ficção. Tudo isto aconteceu. Tudo isto acontece. As eleições em Portugal são um maná de anedotas. Para mim, que gosto de uma boa piada, a melhor de todas soube-a agora de Fafe, na recontagem de votos ordenada pelo Tribunal Constitucional. Leio no jornal que "duas professoras de Matemática" foram chamadas para tomarem nota dos pauzinhos de cada força política concorrente e fazerem os respectivos noves fora. Porque cada voto é um pauzinho, não é? Duas professoras de Matemática, que não têm culpa, e há-de ser de lei, parabéns à prima. Mas é também um atestado de incompetência passado aos "escrutinadores" paisanos enviados para as urnas pelos chefes políticos. E, por amor de Deus, uma desonra para os milhares de suequeiros fafenses, professores doutores na arte do um dois três quatro ata, um dois três quatro ata. Os chitos são outro assunto, e parece que já foi tempo...

3 comentários:

  1. A assembleia de apuramento geral é composta por: a) Um magistrado judicial ou o seu substituto legal ou, na sua falta, um cidadão de comprovada idoneidade cívica, que preside com voto de qualidade, designado pelo presidente do tribunal da relação do distrito judicial respetivo; b) Um jurista designado pelo presidente da assembleia de apuramento geral; c) Dois professores que lecionem na área do município, designados pela delegação escolar respetiva; d) Quatro presidentes de assembleia de voto, designados por sorteio efetuado pelo presidente da câmara; e) O cidadão que exerça o cargo dirigente mais elevado da área administrativa da respetiva câmara municipal, que secretaria sem direito a voto.

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    1. Com o devido respeito, insisto na minha: os homens da sueca é que deviam ser chamados para acudir à função. Quatro. Baralho a fornecer pelo município, obviamente.

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