sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Esmiuçando as pândegas eleições de Fafe

                                                                       Foto Hernâni Von Doellinger

Fafe deve estar uma terra muita perigosa. Percebe-se o medo que as pessoas têm de porem o nome nas pedras que atiram. E atiram muito e à seja ceguinho. O Café Avenida já não é o que era, do Peludo do pé rapado resta o sítio, parece que já não há cavaqueiras, tertúlias, conspirações da velha escola, coragem e honradez. Em Cima da Arcada dar-se-ão com certeza uns peidos valentes, mas pela boca ninguém diz o que pensa. Diz-se mal na Internet, é a modernidade, mas sob anonimato. A opinião política fafense é maneta. Já nem é caso de se atirar a pedra e esconder a mão. Não há mão: os insultos sem assinatura são geralmente tão palermas que só podem ter sido arremessados pelas orelhas. E os "anónimos" escrevem e dizem "eu". Eu, quem? Afinal não é medo, é cobardia.
Mas há uma parte nisto que eu compreendo: em localidades assim pequenas jogam-se muitos empregos quando há eleições. Há quem meta a viola no saco com receio de perder a mama e, nas hostes em frente, outros ficam caladinhos como ratos a ver se desta vez é que lhes calha a abébia. Nunca se sabe para que lado é que a coisa vai cair, não é? Isto passa-se em Fafe, que eu bem vejo, até os donos de blogues habitualmente tão politicamente interventivos fecharam para obras, porque deus e o diabo existe quem creia que sejam a mesma coisa. Ficou o silêncio. O tabu. E deus e o diabo não são a mesma coisa, é preciso que se note.
Portanto vou eu falar do assunto. Chamo-me Hernâni Von Doellinger, sou Bomba, número de identificação civil 03629731 e número de contribuinte 101363109. Estou à vontade. Sou fafense mas não moro em Fafe e tenho seis empregos, cada um deles a render-me acima dos dois mil euros e todos sem possibilidade legal de cortes, o que me garante uma independência e um desafogo financeiro que tomaram muitos. Mesmo os que foram apenas depositantes do BPN.
E vamos falar primeiro dos candidatos à presidência da Câmara, que, se não me engano, eram apenas três: o médico da minha mãe, o filho do Dr. Parcídio e o filho da Nicinha. Os três juntos estão tão preparados para o cargo como eu estou pronto para ser solista de trombone de varas na Filarmónica de Berlim. Entenda-se: isto dos presidentes de câmara e dos solistas de trombone de varas é como os melões - depois de aberto, um dos outros três até pode vir a dar alguma coisa, eu é que não. Eu só sei tocar campainhas de porta.
Dia 29 de Setembro: a eleição resultou praticamente num empate. E deu merda. Deu merda principalmente por causa dos marretas que as forças políticas concorrentes mandaram para as mesas de voto com ordens expressas para tratarem da respectiva trafulhice, cada qual para tratar da trafulhice dos seus, e com o dia pago. Trafulhice? Bagatelas, pequenos truques de ilusionismo, alguns até bastante ingénuos, e que geralmente acabam por anular-se entre si e não dão caso. Deram desta vez. Ignoro se houve má-fé, sei que houve incompetência. São todos culpados, e, antes de todos, os capos atrás dos candidatos de carregar pela boca. Quem não tem culpa é o povo, que está à espera de um presidente de câmara que não há meio de se apresentar ao serviço.
A eleição caiu para o PS. Os Independentes recorreram e estão no seu direito. A margem de vitória é tão mínima, as trapalhadas em eleições, sobretudo nas autárquicas, são tantas, que se impõe uma aclaração. As recontagens de votos, as repetições de eleições estão previstas, fazem parte do jogo político. Não é secretaria, é democracia. Imaginem o que não se estaria a passar em Fafe se o PS tivesse perdido por 17 votos...

Acompanho Fafe sobretudo daqui, deste teclado. Admito que não seja o melhor ponto de observação, mas creio que sei da vida e da política o suficiente para perceber razoavelmente o que se passa na minha terra. Se me provarem que não, amocho, que remédio. Hoje fico-me por aqui. Mas espero voltar proximamente ao assunto, uma, duas ou três vezes, se calhar mais, ainda não sei. Se lhes interessa, conto falar, com algum pormenor, sobre os três estarolas desta eleição - repito, o médico da minha mãe, o filho do Dr. Parcídio e o filho da Nicinha - e até vou indicar o meu candidato para as autárquicas de daqui a quatro anos. Se então ainda houver Portugal.

13 comentários:

  1. Só uma pequena achega, Hernâni. Relativamente à sua afirmação «até os donos de blogues habitualmente tão politicamente interventivos fecharam para obras», e pela parte que me toca, devo dizer-lhe que o meu afastamento se deveu pura e simplesmente ao facto de eu deixar de ser eleitor em Fafe e por viver a 300 km, apesar de conservar uma casa na rua que bem conhece. A decisão foi tomada antes da saída dos resultados. Os outros promotores do blogue Montelongo, também não se encontram em Fafe, limitando em muito o conhecimento do que se passa. De resto, e isto é o que realmente importa, concordo com a ideia da «leviandade» intencional nas mesas de voto. Mais, tudo o que se passou, a fazer fá em alguns relatos, torna óbvia e legítima uma futura abstenção.

    ResponderEliminar
  2. Quase perfeito. Apenas discordo com o sr Hernâni quando diz que eram 3 os candidatos, pois o filho da Nicinha não pode ser "enfiado no mesmo saco" que o médico da sua mãe e o filho do dr Parcidio, pois apesar do filho da Nicinha ter duplicado o numero vereadores, não corria claramente para a vitória, assim como a filha do sr Américo e a filha do sr Luís.
    Quanto ao resto, concordo plenamente. Parece que a democracia para algumas pessoas "tem espinhas" e entre essas pessoas estão o filho da Nicinha e o dr Laurentino.

    ResponderEliminar
  3. Gostei do texto. Tal como o António Daniel, também tenho a fazer um reparo: tenho escrito pouco, porque felizmente o meu trabalho aumentou quer no número de turmas quer em outros projetos e, embora já não resista a espreitar o que se passa nas redes sociais, a minha prestação tem sido quase nula. Reparo é que tal como vocês os dois, eu também me encontro fora de Fafe. Será que somos os que nos preocupamos mais com a nossa terra? Ou somos os que temos menos a perder? Se a razão estiver nesta última questão, peço que me mostrem a vossa opinião, serei levado a concluir que ainda temos muito a fazer...

    ResponderEliminar
  4. Muito bom texto acerca das eleições cá da terra embora tenha de apontar a falha de deixar as "nossas meninas" fora da análise.
    Ao contrário de outros que acima comentam ( e do cronista), eu vivo e trabalho em Fafe e nunca me senti limitado em dizer o que penso. Claro que não espero nenhum emprego vindo das eleições e, talvez, isso seja um factor determinante para PARECER mais corajoso que outros.
    Também não tenho qualquer ligação partidária e, por aí, também não estou "apanhado". Como sou teimoso e chato vou dando a minha opinião.

    ResponderEliminar
  5. De facto o Ricardo é um bom exemplo que intervenção. Empresário, conhecido e respeitado, não se coíbe de meter a sua «colherada». Ainda bem! Mas certamente há mais pessoas que o fazem.
    O facto de estar fora pode ajudar um pouco a tomar posições mais ousadas. Obviamente que numa terra pequena a proximidade física e emocional sente-se de sobremaneira. Também o cuidar da vida passa por aí. Contudo, a responsabilidade não se encontra somente em quem procura cuidar da sua vida mas em quem faz questão de cuidar da vida dos outros. Mudanças? Existem, através de pequenos passos havemos de lá chegar.

    ResponderEliminar
  6. Uma perfeição de escrita e de pensamento. Sou tua admiradora incondicional, Nane! Bjinhos

    ResponderEliminar
  7. mais 4 anos de ditadura,sou funcionário da camara e porisso desculpem mas tenho de manter o anonimato

    ResponderEliminar
  8. Bem, uma certeza fiquei, é que esta cidadezinha está a ser bem acompanhada, de perto ou de longe, mas ainda bem, porque uma boa crítica traz consigo ideias, opinião..., serei coloborador.

    ResponderEliminar