Os mosquitos continuam o seu coro. O vento amainou. A chuva começa a cair. Geraldo já não ouve a trovoada do bolão. A chuva bate nas vidraças. Ele se lembra que desejara a chuva, intensamente. Vieram-lhe à memória os pardais. Eles talvez grasnavam para que o canto dos artistas não os humilhasse. Tinham também entre si compromissos de sangue. Lembrou-se ainda da estátua coberta de incrustações de pardais. Talvez aquela chuva lavasse a estátua. Não, não lavava. Precisava uma chuva mais forte, uma rajada de água. Aquela era muito fraca. Batia de mansinho na vidraça. Apenas descarregava a eletricidade da atmosfera. Ele já podia respirar mais aliviado. Pensava em Lore. Ela lhe ocupava quase todo o campo do pensamento. Agitava-se contra um fundo confuso e móvel: florestas tropicais, o rio imenso, vultos esfumados.
A madrugada encontrou-o perdido no meio de seus fantasmas. E, embalado ao ritmo morno desses pensamentos, Geraldo adormeceu.
"Um Rio Imita o Reno", Vianna Moog
(Vianna Moog nasceu no dia 28 de Outubro de 1906. Morreu em 1988.)
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