quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Porquê Matosinhos?


Foto Hernâni Von Doellinger

Moro em Matosinhos e gosto de pensar que também sou de Matosinhos. Moro num prédio de ex-remediados com vista para o mar, se me puser de lado. E como eu gosto do mar. Levei com o fedor da fábrica da tripa, habituei-me ao chulé da estilha e gramo com os saralhotos de cão que abrilhantam metro sim metro não os passeios da cidade. Gosto do sítio onde moro e gosto das pessoas a quem digo e que me dizem bom-dia, todos os dias, na lota, no mercado, na praia, no passeio marginal, nas portas dos cafés e lojas. Gosto dos pescadores, gosto das peixeiras, gosto do peixe fresco que me vendem por especial atenção, gosto da franqueza e da valentia deste povo, gosto do cheiro da sardinha assada que me entra pela casa dentro nem que eu não queira, gosto das esplanadas que no Verão estorvam ruas e pessoas e quem estiver mal que se mude, gosto do Leixões e gosto dos leixonenses apesar de eles odiarem visceralmente o meu FC Porto.
Não me revejo nos insultos e vaias que ontem foram cirurgicamente creditados ao incipiente currículo político de Pedro Passos Coelho. Ele não merece essa medalha. Também não me revejo nos aplausos ao primeiro-ministro. Era a claque da troika?
Aqui atrasado, uns políticos da treta andaram (não sei se ainda andam) por Matosinhos a incendiar infelizmências, numa vergonhosa luta pelo poder local e pessoal que acabou em tragédia. A morte de um ser humano, seja em que condições for, é uma tragédia. E desde então que não faltam onzeneiros da escrita que passam a vida à espera de uma pequena aberta, uma pequenina assim, do tamanho do tremoço que lhes ocupa o espaço alegadamente reservado ao cérebro, para rasgarem as vestes e gritarem aos céus que os matosinhenses mataram Sousa Franco. Os onzeneiros apareceram ontem outra vez.
Não sei se Passos Coelho correu perigo de vida. Não sei se os insultos e vaias o atingiram mais do que os ovos lançados, em 2008, contra a ministra socialista da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, na minha terra natal, Fafe. Sei é que protestar, vaiar, insultar, empurrar, se for em Lisboa, é fino, é indignação democrática; mas se for em Matosinhos, cheira mal, é tentativa de homicídio.

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