Fafe teve um anão que esteve quase a ir para Lisboa e ser famoso. (E vamos deixar o Luís Marques Mendes em paz, está bem?) Foi lá por meados do século passado, mas só ontem é que eu soube da história, através do blogue Falaf - Revista Cultural de Fafe. O homem chamava-se José Nogueira, era natural da freguesia de Golães e teve direito a retrato na edição de 1947 do Almanaque Ilustrado da terra, agora desempoeirada.
Num artigo muito à época, com o desajeitado título de "Um exemplar raro", o Almanaque falava do "petiz de 59 anos" que passou ao lado de uma grande carreira derivado a dois pormenores que hoje não teriam importância nenhuma: a ignorância e o calçado. O anão de Fafe, que "nos seus tempos fazia serenatas, mas não casou", nasceu lamentavelmente com pelo menos 80 anos de avanço. Fosse ele dos dias de hoje e ninguém sabe se não estaria em São Bento ou Belém.
Porque faltou muito pouco para que o nosso José Nogueira se tivesse transformado numa espécie de atracção de feira a nível nacional, numa celebridade, e é preciso que se note que na altura não havia reality shows nem TVI. Aquilo era mesmo o máximo, era sucesso garantido. E o Paulo Portas também foi pelas feiras que começou.
Segundo rezava o Almanaque, o ilustre fafense José Pinto Bastos "andou para levar" o nosso anão "ao grande Coliseu dos Recreios de Lisboa, pelo que teve entendimentos com o benemérito Empresário Ricardo Covões". A coisa só não foi avante por José Nogueira, tornando ao Almanaque, "ser analfabeto e estar afeito a usar socos e, lá, precisar de usar calçado de polimento, fraque e luvas". Os socos... Os socos é que o lixaram. O analfabetismo foi desculpa, é o que eu acho.
Portanto, cá está: desconheço se Cavaco Silva deixou os tamancos em Boliqueime ou se a jovem reformada Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República, trocou de chinelas antes de abalar de Valpaços. Ignoro se o PGR Pinto Monteiro escondeu os socos em Porto de Ovelha e se Passos Coelho fez uma fogueira com as velhas chancas em Vila Real. Um coisa é certa, mas não sei quem foram os empresários: estes quatro deixaram a terrinha, cada qual do seu canto, aventuraram-se a Lisboa, fizeram os respectivos coliseus e hoje têm o País a seus pés. Melhor dizendo: debaixo dos pés. No tempo do analfabetismo moral e de outros rasteirismos, eles são os maiores de Portugal. E usam calçado de polimento, fraque e luvas.
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