sábado, 19 de novembro de 2016

Leandro Gomes de Barros 3

O fiscal e a lagarta

Estava um dia uma lagarta
Debaixo de um pé de fumo
Quando levantou a vista
Viu um fiscal do consumo.
Disse a lagarta consigo:
Eu hoje me desarrumo. 


O fiscal perguntou logo
Insecto, o que estás roendo?
A lagarta perguntou-lhe
Fiscal, que andas fazendo?
- Aperriando o comércio
Tomando tudo e comendo. 

Disse o fiscal: para imposto
O governo me nomeia
A lagarta respondeu-lhe
Você precisa é cadeia,
Para perder o costume
De andar roubando de meia.

Disse o fiscal: o governo
Não puderá se manter,
Sem procurar o imposto
De quem comprar e vender,
Artista e agricultor
Pagam por justo dever.

Disse a lagarta: o governo
Não podia trabalhar?
Deixar de ser sanguessuga,
O sangue humano chupar.
Ele plante cana e fumo
Se quer beber e fumar!

Bota um pobre uma bodega
Além de vender fiado,
Quando vê bater-lhe à porta
Um dragão engravatado,
Com o bucho muito grande
E o bigode raspado.

Emboca de casa adentro
Vai logo cascaviar,
Não pede ao dono da casa
A licença para entrar.
É igualmente ao cachorro
Entra sem ninguém mandar.

O fiscal disse e você
Acha que faz pouco dano?
Disse a lagarta: eu confesso
Que sou inseto tirano
Porém, só venho uma vez
Você vem muitas no ano.

E há de tratá-lo bem
Com boa dormida e ceia
Se não lhe mostrar carinho
E fizer-lhe cara feira,
O cobre vai para o cofre
E o dono para a cadeia.
 
Leandro Gomes de Barros 

(Leandro Gomes de Barros nasceu no dia 19 de Novembro de 1865. Morreu em 1918.)

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