Foto Hernâni Von Doellinger |
Puta da mania dos rótulos, ainda por cima autocolados. Fafe parece que quer ser marca, é o que leio no Blog Montelongo, em mais um oportuno texto assinado pelo António Daniel. Fafe quer ser marca não sei porquê nem percebo com que vantagens. E, confesso, ignoro em absoluto o quer dizer ser marca. Mas Fafe quer ser marca, como se a cidade e o concelho não tivessem coisas sérias para fazer.
Fracativa novidade, é o que lhes digo. Fafe já foi várias "marcas", não se lembram? Foi "Sala de Visitas do Minho" - como se, por exemplo, Guimarães, Braga, Barcelos, Ponte de Lima, Viana do Castelo, Caminha, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez, Valença, Melgaço ou Monção não existissem no mapa; foi "Fafe dos Brasileiros" - como se tivéssemos sido nós a descobrir o Brasil, lançando ao mar pelo caminho os incómodos torna-viagem de, por exemplo, Arouca, Ovar, Feira ou Famalicão; foi "Têxtil" por causa do Ferro e do Bugio, como se, por exemplo, Santo Tirso, Covilhã ou o Barreiro estivessem na Andaluzia; foi "da Vitela", até ao dia em que uns maduros que gostam de vestir-se de carnaval fizeram-se em confraria e, supinamente ignorantes, decretaram que a nossa carne deveria avinhar-se em tinto antes de ir ao forno; foi ainda agora "Cidade das Artes", mas foi para a seita do costume, consta-me que Fafe (os múltiplos Fafes dentro de Fafe) nem chegou a tomar conhecimento; as bandas de música tocam pouco e fazem muito barulho, não é só a de Revelhe; e Fafe não pode ser um rali que um maluco de Lisboa diz às vezes que vem e outras vezes que não.
A problemática da marca, se não me engano, é como as geminações: há-de dar para umas belas passeatas, sempre que possível ao estrangeiro, bem comidas e bem bebidas - ou não fôssemos nós fafenses. A imoralidade da coisa é que os moinas são sempre os mesmos.
A minha ideia alternativa é esta: Fafe, assim dito em quatro letras, não existe - os fafenses é que são Fafe. E não creio que se possa pegar nesta gente extraordinária e única, metê-la numa Bimby em truque de marketing e cozinhar a tal marca.
Fafe. Ninguém é dono destas quatro letras senão os fafenses. Os de nascença, os que escolheram, os que estão fora e se importam, mas sobretudo os que estão dentro, mesmo que não se importem. Os que são felizes ou infelizes por morarem em Fafe. Os que sonham e fazem memória em Fafe. O que é que interessa e a quem interessa que Fafe seja marca da boca para fora e com limite em Arões? A marca de que Fafe precisa, suponho, é coisa bem modesta e prática - "Fafe das Pessoas". Que lhes parece? "Fafe das Pessoas". Uma terra que dê aos seus: casa, água, luz, esgotos, saúde, educação, cultura, estradas, transportes, segurança, respeito, dignidade. Qualidade de vida. Isso é que era marca caralho! Emprego é outro assunto: depende da economia. Até porque os "políticos" locais, demagogos de pacotilha, continuam a prometer emprego para todos durante as campanhas eleitorais e depois cumprem a promessa chamando para a mama os respectivos lambe-cus.
P.S. - Se fiz bem as contas, escrevi dezoito vezes a palavra "Fafe", três vezes a palavra "fafenses" e uma vez a palavra "Fafes". É o meu modesto contributo para a marca.
Hernâni, compreendo as suas críticas. Contudo deixe-me dizer-lhe que o Porto é conhecido pelo vinho mas não é lá colhido. Tem uma casa da música apesar de os músicos viverem todos em Lisboa. O Porto ganha com isso? Ganha e muito. Fafe teve os Brasileiros de Torna viagem como muitas outras terras, é verdade. Mas nesse aspeto, e graças ao Miguel Monteiro, foi possível desenvolver trabalhos que sistematizam e dão um outro significado a essa emigração. Aliás, não sei até que ponto os brasileiros de torna viagem nas outras terras tiveram a importância que conseguimos observar em Fafe. O fundamental não é a vitela que confecionamos, mas o que dela se faz. Aliás, a história ligada à vitela de Fafe parece ser característica. A sopa da pedra é uma sopa que pode ser encontrada em qualquer parte, a diferença está no acto do frade. Concordo consigo relativamente às pessoas. Por isso, no texto afirmei a necessidade do «testamento». O testamento é feito por pessoas para as pessoas, neste caso de Fafe. Abraço!
ResponderEliminarPS: Estive com a sua mãe, está óptima!
Abraço, caro amigo. Obrigado pela simpatia no encontro com a minha mãe.
Eliminar"E não creio que se possa pegar nesta gente extraordinária e única, metê-la numa Bimby em truque de marketing e cozinhar a tal marca. Fafe. Ninguém é dono destas quatro letras senão os fafenses." ... Mas na minha opinião, podem e devem! Não com o condão de uma bimby que "vomita" em segundos uma qualquer denominação, retirando toda a magia da confecção, do palato e do cheiro... Quando nos referimos à criação de uma marca para Fafe estamos a falar de estratégia. Penso que a ideia será criar um plano que não se confunda com formas elaboradas de se associar a um nome, estamos a falar de ir às entranhas do concelho e sacar-lhe tudo o que é positivo, único e que pode se exponenciado. Falamos de saber estar no "mercado", de criar as condições necessárias para, os tais donos das 4 letras, se sentirem bem no concelho obviamente com "casa, água, luz, esgotos, saúde, educação, cultura, estradas, transportes, segurança, respeito, dignidade", mas dar-lhe a motivação, a vontade e a competência de saber "vender" o seu concelho, a investidores, a turistas, mas acima de tudo a si próprios... Há muito que os fafenses vêm discutindo sobre o facto dos próprios não usufruírem das "coisas" da sua terra, da sua gastronomia, da sua cultura, dos seus espaços. Muitos deles não se conhecem! Quando se fala aqui da marca Fafe, fala-se da identificação emotiva, do cunho que todos devíamos gravar em nós, do ferro que queima o gado e o identifica, sim porque as marcas quando trabalhadas convenientemente têm o poder de ser aspiracionais, de nos fazer ver mais além, de nos emocionar, de nos envolver. Querer ser uma marca é ter "uma coisa séria para fazer".... é pensar, definir, planear, implementar, vender, promover, emocionar, fidelizar, agradar... verbos que Fafe nunca soube conjugar.
ResponderEliminarClara