No tempo em que havia trolhas em Portugal, os trolhas tinham um moço.
Para além de levarem umas valentes e bem merecidas chapadas para
aprenderem nunca se soube o quê, os moços faziam os recados: Moço, traz a
massa!; Moço, vai ao tasco!; Moço, cata-me os chatos!; Moço, toma conta
se o mestre vem!; Moço, anda cá que já vais treinar!; Moço, agarra-me
este peido e põe-mo a corar! Era assim.
Hoje os trolhas chamam-se pintores de construção civil, como se trolha fosse defeito. Não
sei. Mas os trolhas do PSD têm um moço: chama-se Hugo Soares. A criatura
não me interessa para nada (confesso que só este fim-de-semana é que soube da
sua triste existência) e o referendo que o rapaz alegadamente propôs interessa-me ainda
menos, até porque, como todos sabemos, não vai haver referendo nenhum.
Importa
é isto: querendo explicar o inexplicável, o Soares dos pequeninos
voltou à carga no sítio onde os homens se mostram - a rede social. E
inexplicavelmente explicou que só quis corrigir um gravíssimo erro de
lesa-democracia: na
altura em que o projecto de lei da co-adopção do PS foi aprovado na Assembleia da República,
"o debate (…) não ultrapassou, como devia, os quatro muros do
parlamento; (...) devia ser feito na sociedade."
Pois. Os quatro
muros do Parlamento. E as subidas dos impostos foram debatidas na rua, com a sociedade? E os cortes nos salários foram discutidos com os
trabalhadores, na sociedade? E os reformados foram ouvidos, na sociedade, antes de lhes roubarem as
pensões? E o interminável roulement de ministros e secretários de
Estado incompetentes e de moral abastadamente duvidosa foi devidamente
referendado pelo povo, que suponho seja a sociedade? E alguém me perguntou se eu queria a jovem
reformada Assunção Esteves como segunda figura do Estado? Eu não sou sociedade? Afinal, para que serve o Parlamento, se vota e desvota na maior das irresponsabilidades? Afinal, o que é
que separa as coisas que podem ser feitas dentro dos quatro muros do
Parlamento e as que têm de ser feitas cá fora, em sociedade, eventualmente contra os
quatro muros do Parlamento? Tentando desvendar o inexistente raciocínio
do Hugo, e após o vergonhoso espectáculo da passada sexta-feira, admito que
apenas o urinol.
P.S. - Não esqueci o essencial. Omiti-o propositadamente, porque não quero misturar politiquice de retrete com coisas realmente sérias. Para além disso, o direito das crianças à co-adopção é assunto que, para mim, de tão obviamente justo, não tem sequer discussão.
Nem mais!
ResponderEliminarObrigado por colocar de forma tão clara esta questão.
Parece que faz falta algum "esclarecimento" mesmo dentro dos quatro muros do Parlamento.
Viva, Miguel! Abraço.
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