Foto Hernâni Von Doellinger |
O grande dia aproxima-se a passos largos e Matosinhos está cada vez mais na linha da frente para limpar com toda a justiça o primeiro prémio das Sete Maravilhosas Arrenúncias Culturais de Portugal. O monumento ao Senhor do Padrão apresenta-se pior do que nunca, alagando de orgulho os corações embebecidos de todos os matosinhenses. A porta do fontanário há que tempos que estava em pantanas e dentro do zimbório aquilo já era uma magnífica lixeira, cheia de sacos plásticos com restos de comida ou rezas, erva das duas qualidades e garrafas de vinho. Mas faltava o empurrão final. Deram-lho ontem, graças a Deus: alma caridosa encarregou-se de arrombar de vez o gradeamento e abarbatar-se ao aloquete (cadeado, para o júri do concurso, em Lisboa), quem sabe se com o ternurento fito de o pendurar como promessa de amor eterno na Ponte de Luís I, no Porto.
A Câmara de Guilherme Pinto - há que aplaudi-la a pés ambos - está inexcedível de desmazelo e ignorância. Se o prémio vier, como todos esperamos, sobretudo a ela o deveremos. A esta Câmara injustamente conhecida por esse mundo fora derivado a uma certa e determinada reparação da monumental porta dos Paços do Concelho, mas que aqui, sendo o assunto também portas, soube avaliar correctamente o que está em jogo e canalizou todo o seu esforço no sentido de não fazer absolutamente nada. Esta corajosa aposta no abandono demonstra, para além do mais, a apurada visão da autarquia. O abandono acicata o vandalismo e isto é meio caminho andado para o sucesso num certame desta natureza. É esta singular interacção social que a Câmara tão competentemente promove e consegue.
Se o Senhor do Padrão ganhar, Matosinhos já tem um hino de vitória. Foi apresentado e ensaiado pelo primeira vez na última reunião entre a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia, o Porto de Leixões, o IGESPAR, a paróquia e o próprio Jesus Cristo, que desceu à Terra com o celestial lamiré. É um hino sem letra, apenas assobiado, e para o lado, inspirado na música da canção "No pasa nada".
Só um grande azar e um pequeno pormenor nos podem roubar o título que todos nós, matosinhenses, desejamos e merecemos. O azar é incontrolável e o pormenor é o simples facto de o Senhor do Padrão, Monumento Nacional, ainda estar de pé. Pelo menos estava há coisa de cinco minutos. Mas isso também se resolve. Podíamos até combinar para uma destas noites. Alguém tem uma retroescavadora em casa?
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