quinta-feira, 15 de outubro de 2020

E servem para a nossa alimentação (como nas antigas redacções)

Da micose aos cogumelos
Uma pequena tabuleta em tabopan com seta a indicar caminho chamou-me a atenção numa das saídas de Paredes de Coura. Dizia: "Congresso Micológico". A minha primeira reacção foi de... comichão. "Raisparta, que malucos é que estarão por aí reunidos a discutir a problemática da micose?", pensei eu, esfregando-me o mais que podia no assento do carro. Micológico! A ver se me passava a coceira, pus-me a imaginar que, às tantas, era mas é um convívio internacional de saguis ou o encontro anual dos Pequenos e Médios Vigaristas do Norte e Centro de Portugal (PMVNCP). Passou. Mas não acertei. Quando cheguei a casa e fui aos livros é que aprendi que afinal a micologia diz respeito aos cogumelos. Uma coisa tão simples e que me teria evitado os vermelhões que se me estendem ainda hoje pelo corpo todo, se tivesse ligado logo a perguntar ao meu amigo Nestes, que sabe tudo destas coisas e que se calhar até estava lá.
Portanto, cogumelos! Foi de cogumelos que se falou nas III Jornadas Micológicas do Corno de Bico, em Novembro de 2011, na belíssima Paisagem Protegida do Corno de Bico. O evento, que reuniu especialistas, investigadores e produtores, visava, entre outros objectivos elencados pelos organizadores, "demonstrar o potencial dos cogumelos como vector de desenvolvimento das regiões e economias de montanha", nomeadamente "em termos gastronómicos". Quer-se dizer: ainda por cima, o assunto interessava-me.

Entre o "mediúcre" e o medíocre
Falava-se de cogumelos à porta do café. Os montes da zona são dados à fungaria, apanhada por quem quer e vendida por bom preço. Faz jeito o livre empreendedorismo: por falar em cogumelos, a rapaziada da terra fuma por ali umas coisas todas bem dispostas que também não devem ser nada baratas. Uma mão lava a outra, é a vida.
À porta do café, dizia, falava-se de cogumelos. Eram três entendidos. O dono de um daqueles extraordinários telemóveis que têm outro nome e são de esfregar como quem acende um fósforo sem cabeça, dá-me lume, faxavor?, mais dois compenetrados e doutos colegas. No ecrã do coiso passavam-se decerto pequeninas imagens e pertinentes informações micológicas, eles de cabeças juntas e um explicava este é "mediúcre", mas tens a certeza que é "mediúcre" perguntava o outro, é "mediúcre" de certeza absoluta diz aí em baixo "mediúcre" então não se vê logo que é "mediúcre", sentenciava o que estava para não entrar pessoalmente na história, mas resolvi dar-lhe uma oportunidade.
O meu telemóvel é um telefone e foi por causa disso que o comprei. Portanto só quando cheguei a casa é que pude vir aqui procurar os cogumelos de raça "mediúcre". Ou da espécie "mediúcre". Ou marca "Mediúcre", com 25 por cento de desconto em cartão. Não encontrei. Mas fiquei a saber que, tecnicamente falando, haverá cogumelos mortais e cogumelos tóxicos, cogumelos aptos para consumo ou cogumelos não aptos para consumo, cogumelos excelentes ou cogumelos... medíocres. Medíocres. Então era isso. Medíocre.

P.S. - Hoje, 15 de Outubro, o Brasil celebra o Dia Nacional do Cogumelo.

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