quarta-feira, 1 de julho de 2020

Orlando da Costa 4

As mãos e as mãos

A polpa secreta
Das tuas mãos
Espero-a inteira
Espero-a inteira
Como frutos à beira
Da fome de alguém
Espero-a inteira
Nesta fome que vem
Só das tuas para as minhas mãos


Minhas mãos geladas
Minhas mãos suadas
Em rebentos de cada esforço
Descarnadas mãos
De que já riu a ferrugem das grades


Minhas mãos abertas para que creias
Mãos suadas e novamente suadas
Mãos capazes de enxertar veias


A polpa secreta
Das tuas mãos
Espero-a inteira inteira


"Cancioneiro Geral", Orlando da Costa

(Orlando da Costa nasceu no dia 2 de Julho de 1929. Morreu em 2006.)

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