A minha avó de Basto tinha uma sociedade infalível com São Bento da
Porta Aberta. Em questões de pele e outras coisas ruins, os dois juntos eram uma limpeza.
Aí pelos meus vintes, eu tinha uma plantação de cravos no
braço direito, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia
falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São
Bentinho, a minha querida avó Emília ia pessoalmente, a pé, pequerricha e já velhinha, desde
Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro, onde o santo morava. Os cravos desapareceram.
Anos depois, o meu filho era criança e apareceu-lhe um cravo numa
pálpebra, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia
falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São
Bentinho, a minha doce avó Emília ia pessoalmente, a pé, ainda mais pequerricha e
ainda mais velhinha, desde
Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro, onde o santo morava. O cravo
desapareceu.
Se eu puxasse pela cabeça, tenho a certeza de que me lembraria de um
terceiro e definitivo milagre da minha avó, mas não quero arranjar
problemas ao Vaticano.
O Vaticano tem muito mais que fazer do que ocupar-se com a comezinha
história da Bó de Basto, que, cada vez mais velhinha e
pequerricha, ia a pé entender-se pessoalmente com São Bentinho sempre que era
preciso. O Vaticano tem coisas muito mais importantes a tratar: por
exemplo, convencer-nos de que João Paulo II é santo. Vai levar anos, e
eu não acredito.
P.S. - Publicado originalmente no dia 3 de Maio de 2014. Hoje, 26 de Julho, é Dia dos Avós.
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