Cinema
Na grande sala escura,
 só teus olhos existem para os meus:
 olhos cor de romance e de aventura,
 longos como um adeus.
 Só teus olhos: nenhuma
 atitude, nenhum traço, nenhum
 gesto persiste sob o vácuo de uma
 grande sombra comum.
 E os teus olhos de opala,
 exagerados na penumbra, são,
 para os meus olhos soltos pela sala,
 uma dupla obsessão.
 Um cordão de silhuetas
 escapa desses olhos que, afinal,
 são dois carvões pondo figuras pretas
 sobre um muro de cal.
 E uma gente esquisita,
 em torno deles, como de dois sóis,
 é um sistema de estrelas que gravita:
- são bandidos e heróis;
 são lágrimas e risos;
 são mulheres, com lábios de bombons;
 bobos gordos, alegres como guizos;
 homens maus e homens bons...
 É a vida, a grande vida
 que um deus artificial gera e conduz
 num mundo branco e preto, e que trepida
 nos seus dedos de luz...
"Encantamento", Guilherme de Almeida
(Guilherme de Almeida nasceu no dia 24 de Julho de 1890. Morreu em 1969.) 
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