Vela do exílio
Acendi hoje uma vela
 de estearina na fina
 mesinha onde escrevo.
 Enquanto ela me ardia
 da chama para os meus olhos
 velhas lembranças seguiam.
 E súbito sobre a parede
 da velha casa onde moro
 o mapa árido e breve
 das ilhas do Caboverde.
 Que vento não vem ou se agita
 no barco em forma de vela
 por dentro da casa fechada!
 Que voz materna no écran
 da ilha difusa difunde
 meu nome em projecto?
 Acendi hoje uma vela.
 E enquanto me ela queimava
 por sobre a mesa pessoas
 vivas e mortas passavam.
 Vela do exílio acendida
 na noite de Moçambique:
 pesado, inútil veleiro.
 Vela do exílio, meu filho
 com apenas um sopro apagas
 a vela, o exílio não.
Gabriel Mariano
(Gabriel Mariano nasceu no dia 18 de Maio de 1928. Morreu em 2002.)
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