quarta-feira, 25 de julho de 2018

Francisco Bugalho 4

Sede

Magoava os olhos, o sol.
E a fresta entreaberta da janela
Deixava entrar um bafo morno e mole.

Tua blusa amarela,
Naquele ambiente cálido e pesado,
Era uma flor de estufa que se abria
Donde surgia,
Como seu estame airoso e delicado,
O teu branco pescoço
E a tua cabeça meiga e fria.

Toda a frescura da manhã passada
E a doçura da tarde que viria
Fresca e perfumada
Estava ali concentrada
Nessa loira cabeça sossegada,
Nessa flor amarela que se abria...

Assim, no ambiente do meu quarto,
Quando abro as asas do meu sonho e parto,
Como flor que guarda
Nas horas de canícula, na corola,
A gota de água heroica e resignada,
Da flor que és, consolador, se evola
Todo o frescor que a minha sede aguarda,
Silenciosa, cálida, pesada.

Francisco Bugalho 

(Francisco Bugalho nasceu no dia 26 de Julho de 1905. Morreu em 1949.)

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