A cigarra morta
Ontem, cigarra, quando veio a aurora,
acordei a vibrar com a tua vinda.
A tua voz tinha, de espaço fora,
notas tão claras que eu a escuto ainda.
Glorificando a luz consoladora,
cantaste, e enfim tua cantiga é finda.
Tenho nas minhas mãos, inerte agora,
teu corpo cor de mel. Cigarra linda.
Foste feliz, porque te deram esta
garganta de ouro. Assim, de palma em palma,
passou, num sonho, a tua vida honesta...
Vendo-te, os meus sentidos se levantam,
esperando a cantiga de tua alma,
que as almas das cigarras também cantam...
"Últimas Cigarras", Olegário Mariano
(Olegário Mariano nasceu no dia 24 de Março de 1889. Morreu em 1958.)
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