Foto ADRIANO MIRANDA/PÚBLICO |
(O fotojornalista Adriano Miranda lança no próximo 1.º de Maio o álbum de fotografia "Carvão de Aço", em homenagem aos mineiros do Pejão. As minas fecharam em 1994. Nessa ocasião andei por lá e escrevi para a revista Anégia o texto "Requiem pelas minas do Pejão". Que rezava assim:)
Mais 500 desempregados, a supressão de cerca de 800 mil contos mensalmente injectados na região de Castelo de Paiva, um "encerramento programado", desenvolvido "com elevado grau de execução dos objectivos propostos", o anúncio de uma reconversão, mas o espectro de dias negros para centenas de famílias de uma zona pobre e em vias de desertificação. Eis o buraco das minas do Pejão na hora da eutanásia. Para já, parece colocada uma pedra sobre o assunto, mas para daqui a dois anos são muitos os que temem o pior.
É uma espécie de amargo castigo de Natal, entregue com alguns dias de atraso. No dia 30 de Dezembro de de 1994, os últimos mineiros da Empresa Carbonífera do Douro (ECD) descerão pela última vez aos cerca de 500 metros de profundidade de uma reserva cansada, à beira da inanidade. Morre a exploração do carvão em Portugal.
"Toda a mina que abre, tem um princípio e um fim, a gente já sabe!... - dizem-me na Comissão de Trabalhadores -, mas isto aqui ainda há camadas por explorar, ainda dava para mais quatro ou cinco anos, e assim teriam tempo de criar alternativas para a região, de fazer as coisas como devia ser. Não há é vontade política do Governo para manter aberta esta empresa, por ela dar prejuízo".
A Bacia Carbonífera do Douro (que vai de Esposende a Castro Daire, numa extensão de 50 quilómetros) é explorada desde 1884, e o Couto Mineiro do Pejão, a mina de Gemunde, desde 1957.
O seu encerramento foi decidido pelo Governo em 1990 e aprazado para 1994. De acordo com a Administração da ECD, em consequência do quase esgotamento das suas reservas ("desde 87/88 que se sabia que o jazigo fechava em profundidade", explica-me o engenheiro Arrais) e das condições vigentes no mercado do carvão.
"Minas assim são antieconómicas", complementa José Couto, administrador financeiro da empresa. "Os nossos preços eram administrativos. Com a adesão à CEE, começaram a chegar-nos carvões não nacionais (da África do Sul, da Alemanha e da Polónia, por exemplo) com preços de venda inferiores aos nossos preços de custo".
(Continua amanhã)
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