É preciso ter azar (ou As grandes decisões devem ser tomadas em cuecas)
No dia em que Quitério decidiu finalmente atirar-se de cabeça na piscina vazia, a piscina estava cheia. Quitério ficou como um pito. E resolveu, dali para a frente: as grandes decisões, as decisões definitivas, devem ser tomadas em cuecas.
O extraordinário poder de observação dos barmen
Armado em parvo, o que lhe sucedia regularmente todas as primeiras sextas-feiras de cada mês, Quitério entrou no Bar Àluzdasvelas pendurado nuns óculos de sol Ray Ban de lentes enormes e escuríssimas que lhe tapavam cerca de 75 por cento da cara. Tacteou um lugar ao balcão e assim ficou. O homem do bar atentou e disse: - Boa noite, senhor Quitério. Está diferente, hoje. O que é? Cortou o cabelo?...
Ó da Guarda!...
Ó da Guarda, gritou Quitério. Faz favor de dizer, apresentou-se Manuel Miguel de Sousa Pelica, nascido e residente na ex-freguesia de Avelãs de Ambom, e por acaso de visita ao Porto derivado a uma consulta.
Em defesa do alargamento
"Tempos difíceis estes os que vivemos", acabou por largar Quitério num longo suspiro, enfastiado com o raio da vida. Do outro lado do cimbalino mal tirado, Silveira, o chato, viu ali pé de conversa para dar e vender. E, sem contemplações, passou ao ataque:
- Exactamente, pá! Esta crise que nos sufoca, a ditadura do Eurogrupo e do Ecofin, o desemprego que não abranda, a falta de perspectivas de futuro...
- Nada disso...
- Eu percebo-te, pá! Crise de valores, queres tu dizer. Tens toda a razão, já não há valores, o que aí temos agora é uma juventude sem educação e sem respeito pelos mais velhos. No nosso tempo é que...
- Ó valha-me Deus...
- Sei aonde queres chegar, pá! Lá acima, estou a ver. É claro, já não há gente séria como antigamente. Saiu-nos na rifa esta cáfila de banqueiros arrivistas e políticos onzeneiros e trafulhas. É isso, não é?
- Não, pá! É o defeso, pá! O defeso! É este tempo todo sem futebolzinho a sério! O defeso é uma seca...
O taxista-leninista
Bem lhe recomendavam que não misturasse trabalho com política, mas Quitério ignorava. E dizia, alto e bom som, a quem o quisesse ouvir, "Sou taxista-leninista, e com muito gosto"...
O poder do sabão
Quitério era muito cuidadoso com a ferramenta. Todos os dias, de manhã e à noite, lavava as intimidades com um bom naco de sabão azul. O sabão, se não me engano, é um poderoso desinfectante e antibacteriano. Um dia, faltando sabão azul em casa, Quitério lavou-se com sabão rosa. Nunca mais foi o mesmo homem...
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