Sou eu. Como doente, sou uma nódoa, um ignorante, uma vergonha para a classe dos doentes. Devia ser expulso. Vejam bem isto: no outro dia fui à farmácia aviar uma receita com os medicamentos do costume, são só dois, remédios de manutenção que tomo há anos, e pergunta-me o farmacêutico, por causa daquela coisa dos genéricos:
- O Xpghtywçtor, como é que é a embalagem?...
- Desculpe lá, mas esse é para quê?... - atrapalhei-me eu, sem saber de que é que o homem estava a falar. Na verdade, era a primeira vez que me faziam uma pergunta assim tão difícil na farmácia...
O profissional sorriu, cheio de paciência e esferográficas no bolso da bata branca, disse-me ao que fazia bem o medicamento e, na posse dessa preciosa informação, eu já lhe pude explicar que era uma caixa assim assim e coisa e tal.
- E o Gvmkzxqumnarc? É em frasco ou...- voltou o farmacêutico à carga, e eu outra vez à nora.
- E esse é para?... - pedi novamente ajuda, corado de vergonha, no meio de um estabelecimento à cunha de especialistas.
O farmacêutico parou de sorrir. E desatou a rir. Mas lá me esclareceu, e eu lá lhe respondi que era em frasco, se faz favor, e faz favor de desculpar...
Percebem o que eu quero dizer? Como doente, sou de uma incompetência a toda a prova. Sou uma anedota. Como é que eu posso entrar naquelas interessantes conversas de sala de espera de consultório médico, conversas de doentes como deve ser, doentes encartados, e discutir e confrontar com os meus pares colesteróis, internamentos, tacos e chapas de roxis, cardiologistas, bruxas e medicamentos, se nem sei o nome dos doizinhos remédios que tomo? Não posso. Não estou capacitado...
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