As orelhas. As orelhas são muito úteis. As orelhas servem para segurar o lápis, o cigarro, os brincos ou piercings e o raminho de alfádega, que já ninguém sabe o que é. São um bom sítio para pendurar fones. De sociedade com o nariz, as orelhas conseguem também equilibrar os óculos. As orelhas centram muito bem a cabeça e estão no sítio certo para se puxar as orelhas. Hoje em dia é proibido puxar as orelhas nas escolas, só se for aos professores. Os puxões de orelhas dos alunos aos professores são gravados no telemóvel e mandados, com uma grande risota, para o YouTube. Das escolas saem cada vez mais orelhudos. E entram no YouTube.
As orelhas produzem cera, cotão e pêlos, materiais altamente combustíveis. As orelhas ardem: se for a direita, é porque estão a dizer bem de nós; se for a esquerda, é porque nos estão a rogar na pele. Se arderem as duas ao mesmo tempo, o melhor é chamar os bombeiros. As orelhas também deitam fumo sem fogo, pelo menos nos desenhos animados.
As orelhas doem e quando doem chamam-se ouvidos e muitos nomes feios. As orelhas são vizinhas de porta do esternocleidomastóideo, que é o músculo mais famoso do mundo, à pala do Vasquinho da Anatomia, essa ilustríssima figura do tempo em que os Vascos eram Santanas e o cinema português, posto que a preto e branco, ainda tinha alguma graça. As orelhas, em casos extremos, servem também para a nossa alimentação. Os senhores Jeroen Dijsselbloem e Wolfgang Schäuble recomendam com molho-verde.
Às vezes as orelhas dão jeito para ouvir. Ouvir é bom e deve-se às orelhas. A Europa ouve mal o que a gente lhe quer explicar. As orelhas do Ecofin e do Eurogrupo são orelhas a fingir, ouvidos de mercador. Por cá, há também quem tenha orelhas de burro. Com a saída da Grã-Bretanha, a Europa vai ficar ainda mais manca das orelhas e etc.
Havia bastante a dizer sobre as orelhas. Eu gosto muito de orelhas e tenho duas. De momento.
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