Eram dois homens, já na segunda metade da idade. Um deles fica à porta, enquanto o outro entra no restaurante. O proprietário, que o recebe no hall, pergunta-lhe "É para almoçar?" e o homem responde "É para dar uma vista de olhos". O dono do estabelecimento, embora lhe apeteça, não disparata: "Faça favor. Isto não é nenhum museu, mas não paga nada".
Um ou dois minutos depois, o homem sai. Olha para o amigo que o espera, não falam, e desandam dali no mesmo passo descomprometido com que tinham chegado. Deixo de os ver. Fico a imaginar que vão a outro restaurante, fazem a mesma cena mas trocam de papéis. Assim, à vez, vão comendo com os olhos e já ficam almoçados. Melhor do que ir mastigar o papo seco de nariz amarrotado contra a montra do talho, mangando aquela carniça toda dentro do biju ressesso.
Os senhores Jeroen Dijsselbloem e Wolfgang Schäuble se calhar não sabem: comer com a boca é um luxo a que os portugueses do rés-do-chão continuam paulatinamente a desabituar-se. Em Portugal o fenómeno também parece passar despercebido: o Professor Marcelo anda atarefadíssimo com as medalhas e o Costa casca-grossa vê-se fodido para aturar os parceiros que escolheu. Sobra o povo, e está sozinho...
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