Já repararam na quantidade de palavras da língua portuguesa que usam escusadamente um eme final? O eme que se escreve mas não se lê. Se não fosse esta caloraça, podia passar o dia inteiro a dar exemplos uns atrás dos outros - abrevio, porém, dando seis, como os dedos de uma mão mais um, e vou pela sombra: rodage, vantage, viage, sabotage, calibrage, portage, arage. E afinal são sete, os dedos de uma mão mais dois da outra. Para que é que estas palavras precisam do eme no fim se o eme no fim não se diz? E logo a letra eme, a das três perninhas, tantas perninhas, menos duas apenas do que as cinco patas do cavalo.
O eme, faço notar, que ainda por cima é a letra minúscula mais maiúscula do nosso abecedário. Um escândalo! Uma evidente desnecessidade e um tremendo desperdício de espaço num país com somente noventa e dois mil quilómetros quadrados. No eme é que se poupava, digo e redigo. Mas isto não vêem os senhores Jeroen Dijsselbloem e Wolfgang Schäuble mailos do Eurogrupo e do Ecofin, e aos do falso acordo ortográfico a coisa também lhes passou ao lado. Salta aos olhos que estes doutores da mula ruça não andam de metro e muito menos de camioneta. Não falam com pessoas, nunca foram ao Minho. Ou, se calhar, faltou-lhes corage...
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