quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Animais de tiro... e queda

Foto Hernâni Von Doellinger

Animal ou besta de tiro: animal que puxa um carro, na definição simplificadora do dicionário. Ou, mais desenvolvido, animal utilizado como tracção para o transporte de pessoas e mercadorias, aparelhos agrícolas como, por exemplo, o arado, ou como motor de noras e moinhos (chamam-se em Espanha moinhos de sangue).
Os principais animais de tiro são os cavalos, as mulas e os burros, os bois e as vacas, os ónagros, os camelos e dromedários, os iaques, os búfalos de água, os lamas, os alces e as renas do Pai Natal, os elefantes, os portugueses, as avestruzes e... os cães. Os cães: que antigamente tiravam só praticamente no Alasca e para o cinema, e agora, na marginal do Porto e Matosinhos, também puxam por jovens ciclistas e skaters radicais e manifestamente preguiçosos.

Outros animais de tiro, mas por diversa razão, são, aqui que ninguém nos ouve: o coelho-bravo, a lebre, a raposa e o saca-rabos; a perdiz-vermelha, o faisão, o pombo-da-rocha, o gaio, a pega-rabuda e a gralha-preta; o pato-real, a frisada, a marrequinha, o pato-trombeteiro, o marreco, o arrabio, a piadeira, o zarro-comum, a negrinha, a galinha-d´água, o galeirão, a tarambola-dourada, a galinhola, a rola-comum, a rola-turca, a codorniz, o pombo-bravo, o pombo torcaz, o tordo-zornal, o tordo-comum, o tordo-ruivo, a tordeia, o estorninho-malhado, a narceja-comum e a narceja-galega; o javali, o gamo, o veado, o corço e o muflão.
Para não saberem que vão morrer, a estes animais de tiro chamam-lhes espécies cinegéticas. É preciso que se note que o melro saiu da lista dos abatíveis em 2011, por ordem de Daniel Campelo, então secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural. Uma medida que seguramente marcou um extraordinário mandato, posto que breve.

Já os caracóis são obviamente animais de tiro porque puxam pela própria casa, andam com a rulote às costas (o que não acontece com as primas lesmas, essas viscosas sem-abrigo e nudistas descaradas), mas, pelos vistos, gostavam de ser ainda mais. Em 2015, uma campanha em nome destes simpáticos moluscos gastrópodes terrestres foi lançada pelos seus representantes legais, uma rapaziada bem disposta que sobretudo não quer que eles, os caracóis, sejam cozidos vivos. Seria, portanto, de lhes enfiar um balázio na cabeça, aos caracóis, e, então sim, metê-los na panela. Aos caracóis.
Com a coitada da lagosta é que ninguém se importa. Se calhar por ela ser podre de rica e pelar-se por uma sauna bem suada. Invejosos de merda...

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