sábado, 30 de março de 2019

Ana Montenegro

[A Carlos Marighella]

Em seu enterro não havia velas:
Como acendê-las, sem a luz do dia?

Em seu enterro não havia flores:
Onde colhê-las, nessa manhã fria?

Em seu enterro não havia povo:
Como encontrá-lo, nessa rua vazia?

Em seu enterro não havia gestos:
Parada inerte, a minha mão jazia.

Em seu enterro não havia vozes:
Sob censura estavam as salmodias.

Mas luz, e flor, e povo, e canto
responderão "presente", chegada
a primavera mesmo que tardia!

Ana Montenegro

(Ana Montenegro nasceu no dia 13 de Abril d 1915. Morreu no dia 30 de Março de 2006.)

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