quinta-feira, 21 de março de 2019

Amylton de Almeida 2

Por opção ou por condescendência, ele era amplo; a vida o atingia em milhares de detalhes; não escolhia, discernia aceitava tudo, desde que, juntando-se, esses detalhes o impelissem para alguma coisa muito forte que fizesse sentido. Nunca fazia: ele não cabia no mundo. Porque - sabia-o - possuía uma força desconhecida que não poderia nunca ser exposta através de palavras ou explicada através de imagens. Alguma coisa que o sustentava sob duas pernas. Claro, era atingido também por algumas premonições sobre o futuro. Começava sempre com a sensação de que já vivera tudo isso. Em seguida, erguendo a cabeça, para olhar estrelas, atingindo uma tristeza tão grande que adivinhava o pânico sugerido pela densidade do que acontecia agora. 

"A Passagem do Século", Amylton de Almeida 

(Amylton de Almeida nasceu no dia 21 de Março de 1946. Morreu em 1995.)

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