segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Bolinhos de bacalhau no Tarrenego! 8

Foto Hernâni Von Doellinger

O nosso fumeiro e o gourmet de carregar pela boca
Do outro lado da minha estrada (já repararam que, nas nossas cidades, as ruas agora não são ruas, são estradas, e estradas com engarrafamentos e perigosas?), dizia: do outro lado da minha estrada há uma daquelas pequenas lojas tipo "regional gourmet". Azeitonas em frasco, cogumelos em frasco, meles em frasco, geleias em frasco, licores em frasco, frascos em frasco, dois presuntos em fraco, azeites e vinhos em caro, prateleiras em fiasco. Num benévolo gesto de boas-vindas, mal abriu o estabelecimento fui lá cheirar e avisar que o conceito é uma treta e que gourmet a sério é em minha casa, mesmo em frente, porque aqui a comida é muito boa, e gourmet deveria ser isso, mas não estamos abertos ao público. O gourmet - a ver se eu me sei explicar - quer-se da boca para dentro e não da boca para fora, mas não faço concorrência.
Estas lojinhas abrem e infelizmente não vendem nada. São "regionais" porém franchising, very tipical e very vazias, de produtos e clientes. O toque de "qualidade" é dado em palavras "estrangeiras", o que só abona a favor do produto made in Portugal. A loja da minha estrada tinha primeiro uma menina, que passava a vida na ombreira da porta a fumar, fumar, fumar.
A loja não abria desde que o ano entrou. Pensei que tinha sido o fim. Mas graças a Deus enganei-me, que de desemprego já basta o que basta. A loja reabriu hoje: não está lá a menina, mas um rapaz. Que passa a vida na ombreira da porta a fumar, fumar, fumar. Nas costas, os dois presuntos pendurados no cabide tisicam e agradecem - assim se produz o genuíno fumeiro nacional.

P.S. - Publicado originalmente no dia 18 de Janeiro de 2014.

Gourmet? Nos tomates, se faz favor.
Lembram-se da lojinha tipo "regional gourmet" que abriu do outro lado da minha estrada? Fechou. Estava em pousio desde o princípio do ano, arejou naquele sábado que aqui contei, acreditei-me, mas no sábado seguinte - fez ontem oito dias - veio uma carrinha limpar as escanzeladas prateleiras, três sacos de plástico bastaram e lá se foi mais um posto de trabalho, que é o que a mim me importa.
Fico infeliz por ter razão: o conceito era um treta. Esta gente não sabe o que é massa com bacalhau e o prato a esbordar...

P.S. - Publicado originalmente no dia 2 de Fevereiro de 2014. 

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