domingo, 19 de fevereiro de 2017

Álvaro Maia

Árvore ferida
 
Ante a constelação do céu florindo em lume
Temos, ó árvore, o mesmo ideal e a mesma sina...
Sangrou-me o peito inerme a sensação divina,
Como a acha te sangrou em golpe de negrume.
 
Dando esmola ao faminto e consolo à ruína
Subimos em bondade, ardemos em perfume...
Bendita a dor criadora, o perfurante gume,
Que em mim produz o verso e em ti produz resina...
 
Ninguém virá curar-te! Apenas os ramalhos
ensinarão à flor a música dos galhos
e ensinarão ao galho as lutas das raízes.
 
Ninguém virá curar-me! Os meus versos apenas
serão o bálsamo desfeito em minhas próprias penas,
sob a ronda de dor dos dramas infelizes.


"Buzina dos Paranás", Álvaro Maia

(Álvaro Maia nasceu no dia 19 de Fevereiro de 1893. Morreu em 1969.)

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