sexta-feira, 16 de outubro de 2015

António Ramos Rosa 4

Este poema é absolutamente desnecessário
 
Este poema é absolutamente desnecessário
pela simples razão de que poderia nunca ser escrito
e ninguém sentiria a sua falta
Esta é a sua liberdade negativa a sua vacuidade dinâmica
e o movimento da sua abolição
a partir do seu vazio inicial
Mas qual é a sua matéria qual o seu horizonte?
Traçará ele uma linha em torno da sua nulidade
e fechar-se-á como uma concha de cabelos ou como um útero do nada?
Ou será a possibilidade extrema de uma presença inesperada
que surgiria quando chegasse a essa fronteira branca
que já não separaria o ser do nada e no seu esplendor absoluto
revelaria a integridade do ser antes de todas as imagens
a sua violência inaugural a sua volúvel gestação?
 


"Deambulações Oblíquas", António Ramos Rosa 

(António Ramos Rosa nasceu no dia 17 de Outubro de 1924. Morreu em 2013.)

Sem comentários:

Enviar um comentário