Eles iam para Fernando de Noronha. O governo caíra em cima dos centros operários com uma fúria de ciclone. Não ficou um que não fosse arrebentado e que os seus diretores não comessem virola e cadeia. O Dr. Pestana, metido em prisão por umas horas, teve a mulher para gritar por ele, habeas-corpus que o livrasse dos constrangimentos. Os chefes operários iriam para Fernando. Lá estavam os ladrões e criminosos curtindo penas. Para lá iriam os operários. Sebastião e o povo da padaria de seu Alexandre estavam na lista para seguirem. Diziam os jornais que Sebastião era um perigoso agitador e a padaria onde ele trabalhava um foco terrível. Fernando de Noronha com eles.
Seu Lucas andava triste. Foi ao desembargador que ele curara da mulher, mas o homem lhe desenganou. Ninguém fosse falar ao governo em favor de operário. O governador queria fazer uma limpeza na cidade, porque a canalha não deixava ninguém descansar com esta história de greve todos os dias. Ele estava perdendo o tempo. E a mulher de Jesuíno e os filhos nas grades do jardim do seu Lucas, chorando.
- Vai para casa, mulher! - dizia o pai-de-terreiro. Ele volta! Um dia ele volta!
E os fihos de Deodato e os de Simão pedindo notícias a seu Alexandre:
- Foram para os infernos! Perderam-se porque quiseram! Agora que agüentem!
Mas seu Alexandre se lastimava. Os homens sabiam trabalhar de verdade. Os outros que tinham vindo substituí-los não valiam nada. Onde encontrar um boca-de-fogo como Deodato, um pãozeiro como Ricardo, um masseiro como Simão? Seu Antônio foi ao patrão e disse mesmo:
- Precisas fazer voltar esses homens senão eu me retiro.
- Voltar como, homem de Deus? Já falei com o Dr. Demócrito. O governo faz questão de castigar, de dar um termo a esta greve.
"O Moleque Ricardo", José Lins do Rego
(José Lins do Rego nasceu no dia 3 de Junho de 1901. Morreu em 1957.)
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