Divina comédia
Erguendo os braços para o céu distante
E apostrofando os deuses invisíveis,
Os homens clamam: - "Deuses impassíveis,
A quem serve o destino triunfante,
Porque é que nos criastes?! Incessante
Corre o tempo e só gera, inextinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,
Num turbilhão cruel e delirante...
Pois não era melhor, na paz clemente
Do nada e do que ainda não existe,
Ter ficado a dormir eternamente?
Porque é que para a dor nos evocastes?"
Mas os deuses, com voz inda mais triste,
Dizem: - "Homens! por que é que nos criastes?"
"Sonetos Completos", Antero de Quental
(Antero de Quental nasceu no dia 18 de Abril de 1842. Morreu em 1891.)
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