segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Nicolau Tolentino

Deitando um cavalo à margem

Vai, mísero cavalo lazarento,
Pastar longas campinas livremente;
Não percas tempo, enquanto to consente
De magros cães faminto ajuntamento.

Esta sela, teu único ornamento,

Para sinal da minha dor veemente,
De torto prego ficará pendente,
Despojo inútil do inconstante vento.

Morre em paz; que, em havendo algum dinheiro,
Hei-de mandar, em honra de teu nome,
Abrir em negra pedra este letreiro:

- "Aqui, piedoso entulho os ossos come
Do mais fiel, mais rápido sendeiro,
Que fora eterno a não morrer de fome".


"Obras Completas", Nicolau Tolentino 

(Nicolau Tolentino de Almeida nasceu no dia 10 de Setembro de 1740. Morreu em 1811.)

2 comentários:

  1. Este soneto fez-me lembrar aquela afirmação do contemporâneo dele, Casanova (sobre a sua própria pessoa): "enfim, um belo homem, se não fose feio".

    Abraço. Luís Carvalho


    ResponderEliminar