sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Camilo Pessanha

Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho?

Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho,
Onde esperei morrer, - meus tão castos lençóis?
Do meu jardim exíguo os altos girassóis
Quem foi que os arrancou e lançou no caminho?


Quem quebrou (que furor cruel e simiesco!)
A mesa de eu cear, - tábua tosca, de pinho?
E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?
 - Da minha vinha o vinho acidulado e fresco...


Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da cova.
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova...
Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.


Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais,
Alma da minha mãe... Não andes mais à neve,
De noite a mendigar às portas dos casais.


 "Clepsidra", Camilo Pessanha 

(Camilo Pessanha nasceu no dia 7 de Setembro de 1867. Morreu em 1926.)

1 comentário:

  1. Que bem, escreveu Camilo
    Estava agora a pensar

    A noite vai caindo devagar

    Ao longe, vejo vermelho ao mar
    Ao perto ouve-se um cão a ladrar

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