sábado, 16 de novembro de 2024

A bola, como uma mulher

Foto Hernâni Von Doellinger

Epifania 
Ele viu a Luz.
Viu a Luz e disse:
- O Dragão é mais bonito. 

O futebol pode ser uma coisa muito bonita. Se o pequeno astro argentino Lionel Messi estiver em campo, então é de certeza. Lembro-me de uma vez, jogo da Liga dos Campeões, há uns anos, o craque estava ainda no Barcelona e brilhou como nunca: marcou cinco em sete, bateu recordes, mas não é a quantidade que aqui me interessa - é a qualidade. A qualidade de um jogador que descansa mais do que corre, e que não corre, desliza. Que não se esfarrapa, mas pensa. E que pensa e cria como respira. A sofreguidão é uma cena que não lhe assiste. Os seus golos são obras de arte, actos de amor.
Messi conhece como ninguém, a cada momento, o ponto G da jogada que ainda nem lhe chegou aos pés. Ele adivinha o sítio onde a bola o vai procurar. Recebe-a com um beijo, oferece-lhe flores, acaricia-a, leva-a a passear, e ela gosta, retribui os carinhos, abraça-se-lhe à chuteira num abraço só desfeito no exacto momento do remate. Digo mal. Mas qual remate? Messi não chuta, passa a bola à baliza e é golo. O pequeno Messi é um cavalheiro, um amante delicado e atencioso: trata a bola como ela merece. A bola, como uma mulher...

Lionel Messi estreou-se pelo Barcelona aos 16 anos, no dia 16 de Novembro de 2003. Foi em Portugal, no jogo da festa de inauguração do Estádio do Dragão, que o FC Porto ganhou por 2-0. O menino Messi entrou em campo a 14 minutos do fim. Exactamente: o Estádio do Dragão faz hoje 21 anos, nasceu numa noite assim. 

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