Na minha infância e princípios da juventude lidei muito com padres. E os padres cheiravam. Não como o extraordinário Padre Clementino ou o Secónego, casos particulares, que cheiravam naturalmente a mofo, mas outro cheiro, doce, aperfumado, que também não era incenso nem ares de santidade ou sacristia. Cheiravam não sabia bem a quê. Aquilo intrigava-me, ainda por cima porque eu nem fazia ideia de que havia perfumes para homens, quanto mais para padres!
Que se segue? Na vasta sabedoria dos meus dez-onze anos, resolvi então que aquilo de os padres cheirarem a perfume era para disfarçar o cheiro a tabaco. Os padres não queriam que o povo soubesse do cigarrito às escondidas. Bem visto! Porque naquele tempo fumar era um pecado muito grande, praticamente ao nível do pecado da sagrada masturbação.
E nisso fui acreditando, bem-aventurados os néscios, até que um dia, espigadote e epifanado, finalmente percebi: aquilo do perfume dos padres era mas é cheiro a mulher. E, nesse caso, Deus os abençoe...
(Publicado originalmente no passado dia 17 de Setembro de 2021. O Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em Braga, faz 100 anos no próximo dia 14. Sigo com a série de republicações vitaminadas, assinalando a efeméride pela parte que me toca.)
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