Encontrei ontem por acaso o Jeremias, o velho Jeremias, o grande Jeremias, o meu amigo Jeremias - aos anos que não nos víamos um ao outro, eu e o Jeremias. Fiquei tão contente! Recordámos os tempos antigos, os primeiros anos de seminário, falámos das nossas vidas, da família, dos filhos, dos netos, dos amigos que já morreram, daquela inesquecível excursão a Andorra, grandes malucos, da situação na Ucrânia e em Gaza e em Moçambique, das cheias em Valência, de Donald Trump, de Pinto da Costa, do Macaco e do INEM, deste país que só neste país, do tempo para o fim-de-semana e de projectos para o futuro. Enfim, pusemos a conversa em dia, avivámos uma amizade que vem desde os bancos da escola, por assim dizer. Despedimo-nos calorosamente trocando abraços da boca para fora e números de telemóvel e apalavrando a marcação de um almoço para um dia que não chova. Cada qual seguiu para o seu lado, e só então é que eu reparei que aquele não é o Jeremias, nem sequer é parecido com o Jeremias, de resto, pensando bem, ele também não me disse que era o Jeremias e eu nunca tive um amigo chamado Jeremias nem nunca na vida fui a Andorra nem andei no seminário. Na verdade, depois de muito puxar pela cabeça, cheguei à absoluta conclusão de que não conheço este indivíduo de lado nenhum. Em todo o caso, gostei muito de falar com o Jeremias e é bom ter amigos assim.
(Publicado originalmente no dia 19 de Fevereiro de 2020. O Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em Braga, faz 100 anos na próxima quinta-feira, dia 14. Sigo com a série de republicações vitaminadas, assinalando a efeméride pela parte que me toca.)
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