terça-feira, 4 de agosto de 2020

Rei morto, rei morto

Cuidado com o sebastianismo! Este é "um mito perigoso", na opinião do professor catedrático e historiador Francisco Ribeiro da Silva. "A expectativa messiânica de um rei (de um ser poderoso) vindo de fora do tempo e que resolverá os problemas do País pode levar à demissão e à desistência de lutar proactivamente pela resolução dos problemas, na esperança de que eles acabarão por resolver-se", justificava o reputado académico, citado num trabalho que escrevi na revista do jornal 24horas sobre "Os 10 maiores mitos da História de Portugal", em Março de 2007.
O Desejado ou Encoberto, o regresso de D. Sebastião, numa manhã de nevoeiro, para salvar a Nação do domínio espanhol de todos os tempos, "é uma ideia muito negativa para o País", alertava também Hélder Pacheco, escritor e historiador portuense. "Desde D. Sebastião que estamos sempre à espera do salvador, quando a salvação nacional está em nós, na nossa energia e no nosso esforço", acrescentava.
A lenda místico-secular do sebastianismo cresceu em Portugal na segunda metade do século XVI: D. Sebastião morreu com apenas 24 anos, na Batalha de Alcácer-Quibir, mas o povo não quis acreditar. Virou os olhos para as costas de África e sentou-se à espera do rei morto que haveria de voltar vivo. Até hoje.

P.S. - Publicado originalmente no dia 30 de Novembro de 2016, com o segundo lugar na série "As dez maiores tangas da História de Portugal". A Batalha de Alcácer-Quibir foi travada no dia 4 de Agosto de 1578.

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