- Você é muito menino, ainda não sabe de certas coisas... Mas viver é
morrer em prestações. Cada criança que nasce assina com a vida um
contrato de compra e venda... e a gente nunca sabe o prazo certo do
vencimento. - A sua dissertação fora interrompida por acessos de tosse
em que o homenzinho ficava vermelho, engasgado, enquanto sua boca
expelia para todos os lados um chuveiro de saliva. Era preciso nada
menos de cinco minutos para ele voltar à calma e recomeçar a exposição. -
Mas como eu ia dizendo, a criança assina o contrato e o vendedor, que é
a Morte, passa a cobrar as prestações anualmente. Cada ano a gente
morre um pouco. Quando vai ficando velho, as prestações já não são
anuais, e sim semanais. Por fim o contrato se vence. O pior de tudo é
que a gente continua sem saber o que comprou... Por acaso você sabe?
"O Resto É Silêncio", Erico Veríssimo
(Erico Veríssimo nasceu no dia 17 de Dezembro de 1905. Morreu em 1975.)
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