sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Aquilino, o das trutas do rio Coura

Foto Hernâni Von Doellinger

A Associação Portuguesa de Escritores (APE) vai recordar Aquilino Ribeiro (1885-1963), assinalando de uma só cajadada os cinquenta anos da morte do autor de "Terras do Demo" e o centenário da publicação do seu primeiro livro, "Jardim das Tormentas". Faz muito bem a APE, que propõe um interessante programa de conferências, tertúlias e percursos inspirados na vida e nos livros de Aquilino. As comemorações começam já na próxima segunda-feira, dia 25, e prolongam-se até 27 de Maio. A ideia final: divulgar a obra deste homem livre.
É, de facto, uma belíssima oportunidade para tentar explicar aos portugueses de hoje em dia que escritor não quer dizer pivô ou comentador de telejornal. Uma coisa não implica a outra e vice-versa. E que se pode ser escritor, verdadeiramente escritor, e escrever bem. Não há contradição nisso.
Pronto, está dito.
E depois temos a gastronomia aquiliniana, que também vai ser assunto e não é de menos. Aquilino Ribeiro gostava do que era bom e sabia o que era bom. Perdia-se por bolinhos de bacalhau (pastéis de bacalhau, se lido em Lisboa), adorava carne de porco em vinha-d'alhos, conhecia tudo sobre as "dez" maneiras de cozinhar truta. E explicava, fazia questão.
Ora, há um sítio em Portugal que guarda e serve a cozinha e as palavras de Aquilino. Um santuário gastronómico que certamente não ficará de fora do percurso minhoto agendado pela APE para o dia 21 de Abril e que até será guiado pelo escritor Mário Cláudio, habitual freguês da casa. É o Conselheiro, em Paredes de Coura, restaurante único até nisto: promove Aquilino Ribeiro todos os dias, sem subvenções e sem esperar por cinquentenários ou outros aniversários. Estão lá o caldo-verde, os bolinhos, o porco avinhado em tinto, as trutas assim e assado (foto). "Trutas que pediam boca que as soubesse apreciar", no dizer do mestre. E o Sr. Vilaça encarrega-se de explicar Aquilino em cada um dos seus pratos. E oferece aos seus clientes um opusculozinho cheio de citações, a propósito, do autor de "A Casa Grande de Romarigães". E é tudo tão bom - a comida e as palavras.

1 comentário:

  1. Excelente texto, com um efeito nefasto. O Aquilino posso relê-lo aqui em casa, o Sr. Vilaça só mesmo indo a Paredes de Coura. Com alguém abstémio, que a viagem de regresso é sempre delicada...

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