Na rádio, ouvi ontem uma pequena entrevista telefónica feita ao presidente de um clube de futebol da primeira divisão. Claro que o entrevistado não era nenhum dos três cabeçudos - esses não têm telefone (por causa da polícia), só dão "grandes entrevistas" nas televisões mais ou menos nacionais, em directo e exclusivo, ou, quando lhes apetece, mandam recado pela rapaziada que mantêm nas redacções. E também não era nenhum daqueles que querem ser cabeçudos quando forem grandes. Era somente o presidente de um clube de futebol da primeira divisão.
E querem saber? Gostei do que ouvi. Em apenas três ou quatro frases telegráficas, num discurso simples e honesto, o presidente utilizou pelo menos duas vezes a conjunção adversativa (ainda se chama assim?) todavia. Ora, eu gosto muito de todavias. O facto de haver um presidente de um clube de futebol da primeira divisão que respeita o trabalho dos jornalistas e tem educação bastante para atender o telemóvel e permitir a gravação de uma conversa, nos dias que correm e por si só, é para mim uma enorme novidade, um motivo de justificado aplauso. E ainda por cima as todavias falaram-me ao coração. Este presidente, digo já, passou a merecer a minha mais sincera admiração.
Apesar de nenhuma das suas todavias estar devidamente contextualizada. Ou, como se diz agora à la française, "mesmo que" nenhuma das suas todavias estivesse devidamente contextualizada. Atirou-as ao calhas e quem quiser que fuja. Quero lá saber: o homem é do futebol, não é gramático. Podia ter dito "picaretas" e, isso sim, seria perigoso. Gosto muito de todavias, mas as todavias não são tudo.
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