segunda-feira, 27 de setembro de 2021
Turismo de natureza
Era um inverno zangado, daqueles de levar tudo à frente, e aconteceu
assim, no velho tempo do desconfinamento quotidiano. Mal rompeu o dia, e
não foi bem um romper, saltaram aos magotes para o
Passeio Atlântico, ali em baixo. São fáceis de identificar, famílias
inteiras vestidas de fato de domingo e telemóvel armado em máquina
fotográfica, só lhes falta o
merendeiro. Querem saber com os próprios olhos se a Praia de Matosinhos
foi engolida pelo furacão, se pura e simplesmente desapareceu do mapa.
Ficam desiludidos: a praia está ali normalíssima da vida, inteira, cheia
de gente a jogar à bola.
Os magotes desmobilizam, as famílias tornam a casa, telemóveis murchos,
num desgosto que só
visto. Vão comer frango de churrasco, comprado, e assistir à desgraça
como deve ser na televisão. Para a semana, se Deus quiser, vão de
bicicleta visitar
um eucaliptal que é uma categoria. São turistas de natureza. Quero
dizer: de natureza... duvidosa.
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