segunda-feira, 13 de maio de 2024

A 14 de Maio, na Cova da Iria

O peregrino chegou a Fátima, a mais de mil à hora, seriam talvez umas cinco da manhã, ainda a religião nem tinha aberto. Estacionou chiando pneus e perguntou, desnorteado e ofegante, como se tivesse ido a pé: - Nossa Senhora já apareceu?
- Isso foi ontem. - informou o segurança.
- E hoje?... - insistiu o peregrino.
- Não está previsto. - reportou o segurança.
- Nem um bocadinho?... - tentou o peregrino.
- Nicles batatóides! - confirmou o segurança.
- Vim de tão longe... - lamuriou-se o peregrino.
- Não posso fazer nada... - desculpou-se o segurança.
- Tenho a mulher e os putos no carro... - protestou o peregrino.
- Realmente é uma pena... - condescendeu o segurança.
- Carago!... - protestou o peregrino.
- É a vida... - filosofou o segurança.
O peregrino cabisbaxou finalmente, disse "Prontos!..." como se isso o animasse, mas não animou e ainda por cima dizer "Prontos!..." é uma estupidez, deixou o número de telemóvel ao segurança, desse-se o caso de Nossa Senhora aparecer mais tarde, talvez em horário de expediente, encolheu os ombros, fez meia volta, meteu-se outra vez no carro e desandou para cima, nas calmas, vidro aberto, braço de fora, Mira de Aire, Alcobaça, Batalha, Nazaré, Figueira da Foz, Coimbra, Buçaco, Luso e Curia até à Mealhada. E ao leitão. O leitão, graças a Deus, aparece sempre.

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