Ezequiel era um bem sucedido sacerdote e profeta na Babilónia, algures
pelo século VI antes de Cristo. Apresentava o telejornal e escreveu um
dos 73 ou 66 livros da Bíblia, consoante a cisma, constando o livro de
quarenta e oito capítulos, o primeiro dos quais começava
prometedoramente assim: "E aconteceu aos trinta anos, no quarto mês, a
cinco dias do mesmo, que, estando eu no meio dos cativos, junto ao rio
Cobar, se abriram os céus, e tive visões de Deus."
O livro vendeu
razoavelmente. Arquivistas, bibliotecários e documentalistas
catalogaram-no com o assertivo nome de Livro de Ezequiel, para que não
houvesse enganos futuros. Respeitado tanto pelo cristianismo como pelo
judaísmo, e talvez até pelo islamismo, Ezequiel era porém um infeliz
feliz, sentia que lhe faltava algo. Por não ser época de Ferrero Rocher,
resolveu então mudar de vida: deixou o negócio das visões, inscreveu-se
numa escolinha de futebol e fez-se jogador. Vi-o algumas vezes em
campo, pelado, mas sobretudo com a camisola do Lusitânia de Lourosa,
corria para o fim o século XX depois de Cristo.
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