domingo, 28 de junho de 2020

Raul Seixas 4

Esse negodiamô

Sem concepção de tempo,
O papel já terminou
Você vê que nada ficou
Sem poder dormir você pensa em fugir
Mas não há pra onde ir

Lá trancado no porão
Que é escuro mas é clara sua visão
Daquilo que você tanto esperou
Não passava de um sonho
Sobre esse negócio de amor
Doeu na hora que você acordou
Ao som agudo de um despertador
Mais barulhento que o apito
Do guarda abrindo o sinal.

Você procura entender,
Sabendo que não há porquê
Tudo é apenas o que é
Vai morrendo firme em pé
Você vê que não sabe de nada
Você louco e ela calada
Ela foi linda e clara esta noite
Inevitável, claro o açoite
E a dor foi mais que demais

Tudo que cê aprendeu desde que você nasceu
Embora sempre cê desconfiou
Que a gente é gente e é isso aí
Mas no entanto cê esperou
Sei lá, um milagre ou coisa assim
De repente o punhal
Mostrando as frestas do que é
Aí se entende o que é morrer
Estando vivo pra saber
Que cê não passa de um guri

Sua mente flashbacka atrás
aos catorze anos ou pouco mais
As meninas coloridas de batom
de rouge de risadinhas freteiras
Eram todas tão iguais
Sempre elas e sempre o rapaz
Transbordando de amor
Preferi ser escritor sem mesmo sequer saber
Que eu também queria amor
Como um susto bem pregado
De repente vi que tinha esse negócio mesmo
De estar apaixonado
Vi o mundo do outro lado
Tudo tão certo e tudo tão errado


Raul Seixas

(Raul Seixas nasceu no dia 28 de Junho de 1945. Morreu em 1989.)

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