Foto Hernâni Von Doellinger |
Eram um grupo de cumplicidades antigas, chegados, presentes, amigos de carne e osso, uma irmandade, a bem dizer. Reuniam-se em pequenos tascos à volta de generosas canecas de verde tinto de estalo que passavam liturgicamente de mão em mão e de boca em boca. Era uma missa, meu Deus! Eram irmãos, meus irmãos! Oremos.
Agora, derivado ao coronavírus, acabou-se-lhes a fraternidade. As normas de bom comportamento e de afastamento entre pessoas do género humano doravante e para o futuro são bem claras e definitivas: partilhar a caneca é suicídio, homicídio, fratricídio, parricídio e outros cídios parcídios com os cídios anteriormente citados mas que de momento não me lembro. A partilha está absolutamente fora de questão. E só pode entrar no tasco um de cada vez. Os velhos camaradas passam a confraternizar por interposta pessoa. Isto é: o primeiro, tirado à sorte, confidencia ao tasqueiro a mais que batida piada broeira e o tasqueiro faz o favor de reproduzi-la com mais uns pozinhos aos seguintes, anexando-lhe os comentários que entretanto. O último elabora a acta para distribuir por todos os ausentes e paga a conta. O último é igualmente escolhido por sorteio e isso tem sido um problema, porque já calhou seis vezes seguidas ao Antunes Cagadalto. Isto em terra.
A partir do próximo dia 1 de Junho, o desconsolado grupo de cumplicidades antigas, chegados, presentes, amigos de carne e osso, uma irmandade, a bem dizer, e que gosta de comungar à volta de generosas canecas de um robusto verde tinto, vai passar a andar de avião, tudo ao molho e fé em Deus. Tasco com cinco pessoas: mau! Avião com 220 sardinhas, queria dizer, pessoas: bom! É outro aconchego, outro convívio...
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