A culpa foi do Camões. No canto V de "Os Lusíadas", o nosso Épico fala do aterrador gigante do cabo das Tormentas (ou Cabo da Boa Esperança, como lhe chamou D. João II, após a passagem de Bartolomeu Dias) que afundava naus sem dó nem piedade e se desfazia em lágrimas depois da maldade feita. Primeira dica: as "lágrimas" eram as águas salgadas e revoltas da assanhada confluência do oceano Atlântico com o oceano Índico, a sul da Cidade do Cabo, na África do Sul.
É sabido, Luís de Camões foi buscar o nosso Adamastor à mitologia greco-romana. O Poeta queria representar as grandes forças da natureza, o poder dos elementos, as violentas tempestades que, naquela zona do mundo, tentavam impedir o avanço heróico dos Portugueses rumo à Índia. E pintou-as como um mostrengo vigilante e vingativo, espécie de porteiro de discoteca que não deixava passar ninguém: De disforme e grandíssima estatura, / O rosto carregado, a barba esquálida, / Os olhos encovados, e a postura / Medonha e má, e a cor terrena e pálida, / Cheios de terra e crespos os cabelos, / A boca negra, os dentes amarelos.
Mas era apenas um cabo, senhores, nem sequer sargento. Um cabo e geográfico. Por sinal, bem difícil de dobrar e com muitos naufrágios para contar.
Bartolomeu Dias, o navegador português que abriu o caminho marítimo para a Índia ao contornar o Cabo da Boa Esperança, morreu no dia 29 de Maio de 1500.
O textinho acima saquei-o de um trabalho que escrevi para a revista de fim-de-semana do jornal 24horas, em Março de 2007, introduzindo-lhe as necessárias adaptações temporais e porventura, involuntariamente, alguns erros de transcrição. Era um ranking, "Os 10 maiores mitos da História de Portugal", e, para o fazer, pedi a ajuda de especialistas reputados: Manuela Mendonça, historiadora e presidente da Academia Portuguesa de História, os historiadores e professores catedráticos António Manuel Hespanha, Fernando de Sousa e Francisco Ribeiro da Silva, o escritor e historiador portuense Hélder Pacheco e o arqueólogo, historiador e actual figura da TV Joel Cleto.
José Hermano Saraiva nada? História, rigor era com ele!
ResponderEliminarMas falei com ele. Não sei se me mandou para canto ou se, o que seria estranho, não me interessou o que ele disse - não me lembro. Ou então queria ser júri sozinho...
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