Também acontece aos melhores
Ferreira Fernandes é um dos mais brilhantes cronistas do jornalismo
português. E é o meu preferido. Todos os dias procuro o cantinho que lhe
dão no Diário de Notícias e todos os dias me delicio e aprendo alguma
coisa com ele. Ferreira Fernandes é informado, é culto, é estiloso, é
escorreito, é claro, é corajoso, é honesto, é sensato, é sucinto, é
simples, é assertivo. E também é benfiquista.
Ferreira Fernandes escreve de tudo, não por armanço idiota, mas porque
verdadeiramente sabe de quase tudo. Escreve, por exemplo, de futebol,
sem que lhe caiam as medalhas ao chão, e continua a ser um prazer lê-lo.
O Barcelona e o Real Madrid, Messi e Cristiano Ronaldo, Guardiola e
Mourinho devem-lhe se calhar os mais perfeitos textos que sobre eles
foram escritos a nível mundial.
Ferreira Fernandes tornou ao tema do pontapé na bola na edição de ontem
do DN, mas inesperadamente com uma cirúrgica preocupação doméstica. Na
noite em que Rio Ave e Benfica entregaram ao FC Porto mais um título de
campeão que, desta vez, parece que mais ninguém queria, o meu cronista
favorito esqueceu-se do facto e resolveu escrever sobre os desarranjos
intestinais do futebol português. É. Realmente, ninguém está livre.
Entre piçada e pissada, que escolha quem puder
A palavra apareceu-me à esquina pela pena do cronista Ferreira Fernandes,
que eu tando respeito e admiro, embora lastime que ele tenha amouchado
perante o, por assim dizer, novo acordo ortográfico. A palavra é "pissada".
Andei à procura dela e não a vi em sítio de respeito, em local de
idoneidade gramatical que me obrigasse a pensar: sim, "pissada" é mesmo
assim. Mas, pronto, que seja "pissada", porque, na verdade, encontrei
duas ou três "pissas" em dicionários alternativos. Eu, pela parte que me
toca, continuarei a piçar com toda a potência, sem medo de que me achem
malcriado ou tarado da cedilha.
Piçarei, aliás, até que a vós vos doa. Dar uma piçada, levar uma
piçada, deixemo-nos de hipocrisias, bem sabemos de onde é que a coisa
vem. De resto, confundir "pissada" com piçada pode, consoante as
circunstâncias, ser até caso de extrema gravidez.
Aprendi a adivinhar Ferreira Fernandes
Os chamados jornais digitais, agora, para serem lidos, tem de se meter a
moeda. Não sei achar a esse respeito. Os artigos considerados mais
importantes vêm com etiqueta de "premium" e só saem à casa, se saírem,
mas estão acima das minhas actuais possibilidades, e portanto não jogo. A
verdade é que só me faz falta o Ferreira Fernandes, lamentavelmente pago à linha, embora director do Diário de Notícias.
O Ferreira Fernandes é o meu cronista preferido, já disse. E gosto tanto
de o ler que creio que já lhe apanhei o lado para onde descai o bilhar.
E então o que é que eu faço? Pego no engodo, aquele paragrafozinho
inicial dado à babuge, leio-o uma, duas ou três vezes, que continua a
ser de graça, e suponho o resto do texto, porque o Ferreira Fernandes,
noves fora os truques comerciais, é o Ferreira Fernandes que eu sei.
P.S. - Jornais digitais eram os antigos, em papel, folheados com os
dedos molhados com cuspe, ou desfolhados, como dizia e diz um certo
jornalismo analfabeto que prospera.
O incrível Diário de Notícias
A Senhora Judite de Sousa deu uma entrevista à Senhora Fátima Lopes, na
inauguração do programa "Conta-me como és", da TVI. O Diário de Notícias
de Lisboa apresentou o seguinte título,
espremendo o essencial do que a Senhora Judite de Sousa disse à Senhora
Fátima Lopes: "Já passei dias sem tomar banho e já comi borrego com as
mãos". O que é extraordinário! Nunca soube de ninguém que tivesse
passado por tanto. Já se nota o dedo do Senhor Ferreira Fernandes...
No Diário de Notícias está tudo bêbado?
O jornal Diário de Notícias de Lisboa publica um artigo
copiado do jornal New York Times da América, e publica-o em inglês. A
interessante e extensa prosa, que infelizmente não sei o que quer dizer,
chama-se de nome completo Spain and Portugal Play a Draw for the Ages,
Starring a Player for All Time, e eu só percebi aquela parte do bítala da bateria, o Ringo Starring. Mais uma vez, já se nota o dedo do meu ídolo Ferreira Fernandes.
Desgraçadamente, o jornal Diário de Notícias de Lisboa está fechando
portas, às prestações. De momento vai passar a semanário. Percebi isso
numas declarações da directora executiva Catarina Carvalho em que ela parecia querer explicar que não.
P.S. - Textos publicados originalmente entre os dias 1 de Maio de 2012 e 3 de Fevereiro de 2019. Pareço bruxo! Ferreira Fernandes demitiu-se de director do DN. Aguentou apenas dois anos e faz-me lembrar uma pessoa que conheço como se me visse ao espelho. Saiu inteiro e de cara lavada, como gosta de dizer, mas durante dois anos o agora ex-director avalizou e acoitou uma gente que não respeita ninguém e que, por isso, mão merece o aval, o colo ou sequer o respeito de ninguém. Outra coisa é, Senhor Ferreira Fernandes: escreva! Continue a escrever-me, por favor.
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