sexta-feira, 18 de maio de 2018

Heliodoro Baptista 2

Thandi

escrevemos na pele:
a morte não existe
porque já dormimos sobre ela;

se se passa alguma coisa? não, meu amor;
ou seja, passa-se absolutamente tudo!
e o tudo é o pão
que nunca houve neste nada;
(mas o nada será o princípio de tudo,
estas já longas servidões humanas);

esquino, te reescrevo, Thandi; e se tenho palavras
é porque imito o canto
de uma ave fecundada adulta;

(claro que o lirismo não se prende ou rotula:
aceita-se tarde ou se nega e muito cedo);

mas o poeta tem boca:
as metáforas o seu ardil,
para que outros leiam
o que ele nunca disse.


"Nos Joelhos do Silêncio", Heliodoro Baptista

(Heliodoro Baptista nasceu no dia 19 de Maio de 1944. Morreu em 2009.)

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